Durante um mês, o público brasiliense vai poder sentir um pouco do gostinho de viver no Parque Indígena do Xingu, com sua natureza exuberante, sua população diversa e sua cultura ancestral. A exposição “Yawalapiti - Entre Tempos” irá ocupar o Museu Nacional da República com as imagens que o premiado fotógrafo francês Olivier Boëls colheu ao longo de mais de cinco anos de convivência com a comunidade Yawalapiti, uma das 16 etnias que vivem no Xingu. São mais de 80 fotografias, que registram o cotidiano da aldeia. A exposição será aberta no dia 19 de abril, Dia do Índio, e contará com a presença de 50 integrantes da comunidade.

A exposição de fotos se distingue de outras sobre indígenas por alguns detalhes. O primeiro deles: com base no entendimento de que “Ninguém melhor do que você para contar sua própria história”, os próprios indígenas se encarregaram de escrever as legendas das fotos. Os escritos serão apresentados na língua Yawalapiti e traduzidos para o português, preservando a construção gramatical do idioma original. Com isso, deseja-se promover uma compreensão maior da cultura e sua cosmologia. Para ampliar o alcance, os textos serão ainda traduzidos para o inglês.

Outra diferença: 100 integrantes da comunidade Yawalapiti se revezarão ao longo de toda a temporada da exposição, fazendo a mediação com o público. No próprio local, eles conversarão com os visitantes, farão apresentações de cantos e danças, lutas tradicionais, pintura corporal, confecção de arte (inclusive com oficina), projeções mapeadas com vídeos feitos por integrantes da própria comunidade na cúpula do Museu, mesa-redonda e muito mais.

A mostra é uma realização de Olivier Boëls e da Associação Yawalapiti Awapá e conta com patrocínio do FAC - Fundo de Apoio à Cultura, da Secretaria de Cultura do Distrito Federal. Conta ainda com o apoio da Fenae, do Museu Nacional da República, da Molduras & Cia Aleixo, Ashram Photo, Etnofoco, Inova Photo Art e Cerrado MMA e tem como parceiros o Instituto Oca do Sol, BR22, CANSON, WWF e ISA - Instituto Socioambiental.

Ponte - Com expografia assinada por Bené Fonteles e caracterizada por pinturas xinguanas, a exposição de Olivier Boëls marca a primeira vez que a comunidade indígena Yawalapiti compartilha um pouco de sua cultura e de suas histórias ancestrais. O rico universo da comunidade será apresentado em imagens colhidas por Boëls em seguidas temporadas de imersão na aldeia xinguana, entre 2012 e 2017. Não se trata de uma exposição sobre os Yawalapiti, mas em parceria com a comunidade.

A ideia é dar espaço para que os próprios indígenas falem de si, seja através dos textos de apresentação e das legendas, seja na mediação com o público. O programa envolverá 100 integrantes da comunidade Yawalapiti. Uma parte deles integrará o Programa Educativo, contando histórias aos visitantes. Outros permanecerão no local, confeccionando sua arte e ensinando os espectadores em oficinas - as peças produzidas estarão à venda na área externa do Museu da República. Outros ainda farão parte de apresentações de cantos e danças.

O visitante terá oportunidade de conhecer o simbolismo da pintura corporal e a lendária flauta uruá, considerada sagrada pelos indígenas, por espantar a tristeza e afastar os maus espíritos. Ainda será possível escutar o som da flauta sagrada apapálu, que será tocada no dia de abertura do evento. O instrumento só pode ser tocado pelos homens - as mulheres não podem sequer olhar para a apapálu.

No dia 21 de abril, aniversário de Brasília, a cúpula do Museu receberá projeções de vídeos e fotos produzidos pelos próprios indígenas. No mesmo dia, será feita uma apresentação de dança. No dia 22 de abril, guerreiros da aldeia farão uma demonstração da luta Huka Huka, tradicional do Xingu.

No dia 24 de abril, uma mesa-redonda colocará lado a lado o fotógrafo Olivier Boëls e os três caciques Yawalapiti – Aritana (uma das maiores lideranças indígenas do Brasil), Makawana e Waripirá, no Auditório do Museu. A atividade contará com interpretação de Libras.

Ainda como forma de ampliar o acesso ao universo apresentado nas mais de 80 imagens, estão programadas duas visitas guiadas à exposição com interpretação em Libras: dia 28 de abril, às 15h, e no dia 12 de maio, às 10h.

História - A aldeia Yawalapiti fica no Parque Indígena do Xingu, criado em 1961 e que conta com 27 mil quilômetros quadrados. Está situado no norte do estado de Mato Grosso, numa região entre o Planalto Central e a Floresta Amazônica. É cortado pelo rio Xingu e seus afluentes. Mas, como a delimitação da área deixou de fora as nascentes dos rios e o Parque está rodeado de grandes fazendas de soja e gado, o local corre perigo.

A comunidade Yawalipiti, situada no Alto Xingu, segue o padrão das aldeias xinguanas. Seus integrantes vivem em grandes casas coletivas, dispostas em formato circular, com uma grande praça central, limpa de mato, onde fica situada a Casa dos Homens. Na praça central acontecem as grandes festas e rituais da aldeia e nesta casa, ou em bancos diante dela, os homens se reúnem para conversar no crepúsculo ou se pintam para as cerimônias.

Yawalapitis - Entre Tempos quer promover uma interação intercultural e a valorização da cultura indígena, contribuindo para modificar a imagem caricata incorporada na sociedade e incentivando o respeito aos saberes dos povos indígenas. Mesmo no meio do parque indígena do Xingu, o “mundo dos brancos” chega com força à cultura Yawalapiti, como o modo de se vestir, a comida industrializada, o lixo, a internet (com as coisas boas e ruins que ela traz), por exemplo. Os anciões se mostram preocupados com alguns jovens que estão perdendo sua cultura para o mundo globalizado.

Atualmente vivem no Brasil 305 etnias, falando 274 línguas diferentes. Cada povo tem seu saber, sua cultura, ciência, arte, literatura, poesia, música e religião. No entanto, uma visão discriminatória pauta a relação entre índios e não índios no Brasil, rejeitando uma das maiores riquezas culturais do país.

Olivier Boëls - Autor, diretor e curador, Olivier Boëls é detentor do mais prestigiado prêmio da fotografia mundial, o World Press Photo, uma espécie de Oscar da Fotografia. Olivier conquistou a premiação em 2000, concorrendo com alguns dos mais famosos fotógrafos do mundo, como James Natchwey, Antony Kratochvil, John Stanmeyer e Sebastião Salgado. Foi ainda um dos dez finalistas do prêmio internacional promovido pelo Instituto Smithsonian, dos Estados Unidos, em 2011 e 2013; recebeu o prêmio Memorial Maria Luisa 2011, na Espanha; o 1º Foto Arte, em Brasília/2004, e o prêmio Pierre Verger 2002 da Associação Brasileira de Antropologia.

Olivier Boëls já participou de mais de 45 exposições fotográficas pelo mundo afora, em lugares de renome, como Harbourfront Center, em Toronto/Canadá, India Habitat Centre, em Nova Delhi/Índia, Musée Du Quai Branly, em Paris/França, Museu Nacional da Coreia do Sul, Centro Cultural Banco do Brasil (SP, RJ e DF), Caixa (DF, SP, BA), dentre vários outros. Seu trabalho é reconhecido nacional e internacionalmente. Desde 2006, fotos de Olivier Boëls fazem parte de acervos permanentes das galerias do Zone Zero, um dos sites de fotografias mais visitados do mundo, com 5,5 milhões de entradas por ano.

Programação
19 de abril - 19h: abertura e apresentação de flauta sagrada
21 de abril - 17h: projeção mapeada na cúpula no Museu e apresentação de dança
22 de abril - 17h: apresentação da luta xinguana, Huka Huka
24 de abril - 19h30: bate-papo com os caciques Aritana, Makawana e Waripira, no Auditório do Visitação: de terça a domingo, de 9h às 18h30
Entrada franca