Grampos irregulares, delações premiadas contra figuras influentes e poderosas, vazamentos sistemáticos e seletivos, relações promíscuas com procuradores, desprezo pela presunção da inocência, agressão às garantias constitucionais e retórica no estilo “fake news” e populista. A verdade ofuscada pelo tempo, resgatada no novo documentário “Amigo Secreto”, da premiada cineasta Maria Augusta Ramos – a Guta, é que a operação Lava Jato e os métodos ilegais empregados pelo ex-juiz Sergio Moro contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e setores da esquerda brasileira, com disposição para extrapolar as leis numa pretensa cruzada anticorrupção, acabou por fragilizar o Estado Democrático de Direito, atingindo por tabela o sistema de Justiça no Brasil.

Os temas do novo filme da Guta, que tem a Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal (Fenae) como uma das patrocinadoras, são Lula, Moro, Lava Jato e seus desdobramentos políticos, com o tal “lawfare” ou o uso da lei para perseguição política. A história é contada a partir do trabalho de jornalistas que, por meio de mensagens vazadas do Telegram de procuradores da operação Lava Jato, expuseram a proximidade entre os membros da força-tarefa e o então juiz, enquanto o Brasil mergulhava em uma sequência de crises que passou desde então a ameaçar a democracia no país. 

Em junho de 2019, alguns meses depois do início do governo Bolsonaro, o vazamento de conversas entre os membros da operação Lava Jato revelaria um grande escândalo judicial, talvez o maior da história da República, na série de reportagens que ficou conhecida como “escândalo da Vaza Jato”. Porém, muito antes dessa operação deflagrar sua primeira fase, em março de 2014, os tribunais superiores tomaram conhecimento de que algo muito estranho acontecia na 2ª Vara Federal, depois rebatizada de 13ª Vara Federal em Curitiba. Apesar disso, os tribunais superiores nada fizeram para barrar o comportamento transgressor de Moro, deixando que fosse criado um “magistrado com poder paralelo” que se expandiu durante a força-tarefa.

Na época, aliás, Sergio Moro vazou uma conversa entre Lula e a então presidenta da República Dilma Rousseff. É curioso que o ex-juiz jamais tenha sido punido por isso. Talvez, em qualquer outro país democrático, o então juiz seria demitido por causa disso.

Os protagonistas de “Amigo Secreto” são Leandro Demori, então do The Intercept Brasil, e Carla Jiménez, Regiane Oliveira e Marina Rossi, então do El País Brasil. Eles foram acompanhados por Maria Augusta Ramos nos bastidores da cobertura jornalística.

O documentário é uma coprodução entre Brasil, Alemanha e Holanda. A distribuição é da Nofoco Filmes e da Vitrine Filmes. A direção de fotografia é de Diego Lajst, com montagem de Karen Akerman e direção de produção e pesquisa de Zeca Ferreira. A estreia do longa-metragem nos cinemas está agendada para 16 de junho.

Para Sergio Takemoto, presidente da Fenae, entidade que aparece na lista de patrocinadores, “o novo filme da Guta é um convite para olharmos o passado e mudarmos o presente”. Ele acrescenta que registrar e contar esses acontecimentos nebulosos, em um momento do país em que bancos como a Caixa 100% pública e social e os direitos dos trabalhadores voltam a ser atacados, são alguns do importante saldo captado pelo documentário, na busca para valorizar um projeto coletivo de Nação com mais democracia, mais soberania nacional, mais respeito à população e mais políticas públicas. 

Informações sobre a diretora do “Amigo Secreto”

Maria Augusta Ramos, a Guta, é uma diretora de cinema reconhecida internacionalmente. Os filmes da cineasta brasiliense foram premiados em diversos festivais. É dela o documentário “Não Toque em Meu Companheiro”, que conta a história da mobilização de um grupo de 110 empregados da Caixa Econômica Federal de Minas Gerais, Paraná e São Paulo, ao longo de um ano, após serem demitidos injustamente em 1991 por ato do então governo Fernando Collor de Mello, uma semana depois de terem concluído estágio probatório, não poupando sequer quem estava de licença-maternidade.

“Não Toque em Meu Companheiro”, depois de passar por temporadas de exibições em diferentes cidades brasileiras e outros países, com registro ainda de estreia em plataformas de streaming, assim como em eventos especiais apoiados pela Fenae e Associações do Pessoal da Caixa (Apcefs), foi exibido em Toulouse, na França, durante a 32ª edição do Festival Cinelatino – Recontres de Toulouse, com grande sucesso de público.  Inclusive, a obra da Guta foi coproduzida pela Federação Nacional das Associações do Pessoal do banco, o único 100% público do país. 

Maria Augusta Ramos também dirigiu o documentário “O Processo”, uma narrativa sobre os bastidores do impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff. Esse filme, ao retratar um tema a respeito da atualidade conjuntural brasileira, registrou brilhante carreira no Brasil e no exterior.