A “Violência Política de Gênero: Desafios nas Redes e na Democracia” foi um dos temas debatidos nesta terça-feira (30/09), no segundo dia da 5ª Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres (5ª CNPM), que acontece em Brasília até o dia 1º de outubro. Representando a Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa (Fenae), as diretoras Rachel Weber e Rita Lima, além da presidenta da Associação dos Gerentes da Caixa de São Paulo (Agecef/SP) e diretora da Apcef/SP,  Fernanda dos Anjos, participaram da discussão com a ex-deputada federal Manuela d’Ávila.

Palestrante da mesa sobre violência de gênero na política, Manuela relatou sua experiência e as agressões que enfrentou ao longo dos anos em seus mandatos como vereadora e deputada federal. Segundo ela, desde que se elegeu vereadora por Porto Alegre (RS), em 2005, com apenas 23 anos, sofreu diversas formas de violência, que só aumentaram com sua trajetória política.

O ponto central de sua fala foi a redefinição da violência política de gênero. Manuela criticou a legislação que, segundo ela, restringe o conceito de violência política apenas às mulheres com mandato, refletindo a visão limitada do Congresso. “A ideia é que política é apenas das mulheres que têm mandato. Para nós, política é ocupar o espaço público, é existir fora de casa. A política real é o ato de coragem de resistir à violência doméstica e sexual, sair de casa e ir para a rua, em um país que, com números assustadores, odeia mulheres”, afirmou.

Manuela destacou a importância da unidade entre as mulheres para resistir e denunciar a violência de gênero no campo político. Ela ressaltou ainda que as mulheres são perseguidas porque a extrema-direita percebeu que são protagonistas da transformação social. “Hoje temos centenas de mulheres públicas ameaçadas, dezenas correndo risco de cassação, porque elas são as vozes mais potentes, as vozes que o povo escuta mais alto”, reforçou. “Existe uma força que temos, que é saber que o feminismo é o oposto da solidão. A luta das mulheres é o que nos coloca umas às outras na condição de fortaleza, porque a única fortaleza que temos é a nossa luta comum”, finalizou Manoela. 

Violência digital

A pesquisadora sobre Violência online no Brasil, Janara Sousa, tratou da violência sofrida por meninas e mulheres no ambiente online. Segundo a pesquisadora da UNB, a sociedade ainda naturaliza e desqualifica a violência digital, o que acaba por excluir mulheres não apenas do debate público, mas também dos espaços de construção da própria rede.

Segundo ela, os números do Observatório Brasileiro de Violência Online, apontam que 75% das pessoas que sofrem violência no ambiente digital são meninas e mulheres. Além disso, em 50% dos casos os agressores são conhecidos. Entre as principais vítimas estão meninas, mulheres que sofreram violência doméstica ou sexual e aquelas com protagonismo social — como jornalistas e mulheres na política.

“A mulher na política institucional está, em geral, em profunda solidão, com baixa rede de apoio. Está sujeita a diversos tipos de violência, inclusive a digital, e muitas vezes não dispõe das ferramentas necessárias para se proteger”, afirmou a pesquisadora.

“Quando a mulher entra na política, a família e o companheiro não param tudo para ajudar, diferentemente do homem. Se ela não tiver uma grande rede de apoio e capacitação, a violência digital vai tirá-la da política, vai nos tirar do poder e dos espaços de decisão. Não podemos estar sozinhas; precisamos apoiar umas às outras”, conclamou Janara.

Sobre a Conferência 

Com o lema “Mais democracia, mais igualdade e mais conquistas para todas”, a Conferência é um amplo processo democrático e participativo promovido pelo Ministério das Mulheres e pelo Conselho Nacional dos Direitos da Mulher. Entre as diversas pautas que serão debatidas nos próximos três dias de atividades estão: o combate a todas as formas de violência contra as mulheres, a igualdade salarial e de oportunidades no mercado de trabalho, políticas de cuidado para filhos e familiares, o atendimento público à saúde da mulher, a ampliação de creches e o acesso à educação de qualidade.

Cartilha é lançada na Conferência 

Para orientar as mulheres, a 5ª CNPM lançou a cartilha orientadora Mulheridades - Vamos entender?, que tem o princípio de inclusão como um dos seus principais compromissos. 

A Conferência é um espaço de respeito e acolhimento para que todas possam participar ativamente da construção de políticas públicas em defesa da vida das mulheres e da nossa diversidade. 

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