Entrevistas


“Tenho muito orgulho de ter feito parte da Fenae”, diz Wellington Dias

27.04.21

A atuação da Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal (Fenae) nesses 50 anos viabilizou conquistas históricas para os empregados do público e também ajudou na formação de lideranças que ultrapassaram as barreiras do movimento sindical e associativo e se tornaram importantes lideranças políticas do país. É o caso do governador do Piauí, Wellington Dias. Ele ingressou na Caixa em 1982 e se engajou nas lutas da categoria. Foi presidente da Apcef/PI (1986 e 1989), do Conselho Deliberativo Nacional da Fenae (1988 e 1989) e do Sindicato dos Bancários do Piauí (1989 e 1992) . Na vida pública, foi eleito vereador, deputado estadual, deputado federal, senador e governador. Hoje está no quarto mandato como governador do Piauí.

Em entrevista ao site da Fenae, Wellington Dias destaca a importância da Fenae para organização dos trabalhadores, defesa das empresas públicas e democracia do país. “Esse trabalho todo coloca nesses 50 anos a Fenae como uma das mais presentes e ativas entidades do Brasil. Tenho muito orgulho de ter feito parte da Fenae”, declara o governador, que atualmente preside o Consórcio do Nordeste, fórum que reúne todos os governadores da região do país.

Confira a entrevista:

Fenae- A Fenae completa 50 anos em maio. Qual a importância da entidade e das Apcefs para os empregados da Caixa?

Wellington Dias- Entrei na Caixa como empregado concursado em 1982 e naquele período a Fenae tinha um papel vinculado mais à área social. A lembrança que ficava na nossa cabeça era da Federação cuidando dos clubes dos economiários, como a gente chamava as Apcefs. Havia alojamento em alguns lugares e programação de esportes e os jogos, coordenados pela entidade. Quando ingressamos no banco, ocorreu uma mudança importante casada com a abertura democrática do Brasil. A Fenae passou a ter um papel integrado com outros setores, a trabalhar a defesa da pauta de reivindicação dos empregados da Caixa, dos bancários e também de outros segmentos. Destaco ainda a preocupação com as questões sociais, trabalhando de forma a garantir apoio à camada mais carente da população. No Piauí, por exemplo, destaco a atuação em Caraúbas, com as ações do programa Movimento Solidário e Guaribas também recebeu o apoio da Fenae. Esse trabalho todo coloca, nesses 50 anos, a Fenae como uma das mais presentes e ativas entidades do Brasil. Tenho muito orgulho de ter feito parte da Fenae.

Fenae-Que contribuição o movimento dos empregados da Caixa tem dado à sociedade?

Welliginton Dias- São muitas as contribuições. Os trabalhadores da Caixa Econômica Federal tiveram de lutar por muitas conquistas, como a jornada de seis horas, para ter o direito de ser tratado como bancário e a Fenae teve um papel destacado nessas mobilizações.  Marcou presença também nas lutas com o conjunto dos bancários e de outras categorias, na defesa da democracia e das empresas públicas como relevantes para o Brasil, em campanhas no combate à fome e à miséria, e apoiando a organização social. Na área cultural e esportiva também tem um papel muito destacado. Então, eu creio que outros segmentos reconhecem este importante trabalho do movimento dos empregados da Caixa, que foi além de uma pauta reivindicatória.

Fenae- O senhor foi empregado Caixa e também como governador conhece o papel social do banco, que tem sofridos sucessivos ataques e tentativas de desmonte. O que pode significar para o país a privatização da Caixa?

Wellington Dias- Com esses quase 40 anos de convivência com a Caixa, eu devo dizer aos mais jovens funcionários do banco, os que estão nas mais diferentes áreas, que já vivemos muitos ataques ao longo da história. A Caixa é o maior banco social da América Latina e tem um papel extraordinário no desenvolvimento do Brasil. O país precisa de uma política de habitação, porque os outros (bancos) não chegam com a mesma intensidade? O Brasil precisa trabalhar o crédito ao comércio, precisa lidar com os convênios para os estados e municípios, a política de saneamento, financiamento para infraestrutura, todas essas coisas são livres para atuação do conjunto dos bancos, mas quem comparece disposta a cumprir com este papel é a Caixa.  E vejam: faz um trabalho social e dá lucro, dá resultado. É por isso que defender a Caixa não se trata só de defender uma empresa pública, mas defender o Brasil.  É defender principalmente os que mais precisam do poder central do país nas políticas e ações que mudam a vida, principalmente dos mais pobres. Por isso, defendo de forma muito firme a Caixa como um instrumento para 210 milhões de brasileiros e para o desenvolvimento do Brasil.

Fenae- O governo tem atacado a organização dos trabalhadores de forma geral. Como as entidades podem resistir?

Wellington Dias- Eu fui do movimento sindical bancário, presidente da Associação dos Economiários do Piauí, que depois se tornou Associação do Pessoal da Caixa, presidente do Conselho Deliberativo da Fenae em momento de grandes transformações e diferentes governos. Eu acho que o caminho é o mesmo. Ter uma pauta que toda a categoria possa abraçar como sendo o justo e adequado. O segredo da força de uma mobilização ou movimento reivindicatório é a união. Hoje, eu sinto a falta da união dos variados setores que são atacados. Não são só os bancários da Caixa, são também os do Banco do Brasil, do Banco do Nordeste, do Bradesco e de outros bancos, mas também não são somente os bancários.  Com a Lei do teto de gastos públicos, nós governadores estamos enfrentando um problema sério, foi imposto congelamento salarial, praticamente proibição para concursos, ou seja, no momento em que o Brasil precisa de mais renda, de mais dinheiro circulando na economia, de mais poder de compra. Eu creio que o lema que a Fenae sempre abraçou, nossa força é nossa união, vale muito. Neste momento, precisamos da união de todos os segmentos a partir de uma pauta comum que garanta força perante o Congresso Nacional, os governos municipais e estaduais e o setor privado. É bom lembrar que a classe trabalhadora é a ampla maioria do povo brasileiro , então a unidade é fundamental para evitar ataques.

Fenae- Em plena pandemia, os trabalhadores da Caixa se empenharam para garantir o acesso de milhões de pessoas ao auxílio emergencial e outros benefícios sociais, qual mensagem o senhor gostaria de repassar aos empregados do banco público?

Wellington Dias- A presença dos empregados da Caixa Econômica Federal chegou a ser penosa nesse trabalho do pagamento do auxílio emergencial, porque manteve-se as outras missões do banco. Eu defendi em 2020 e também em 2021 que o pagamento deste benefício fosse colocado em toda a rede bancária pública, para que evitássemos aglomerações e risco para os beneficiários e trabalhadores. Encaminhei ofício ao ministro Paulo Guedes, que respondeu ser competência do ministério da área social e nós cobramos ao ministro da área social providências para termos mais pontos de atendimentos, além da Caixa, com os outros parceiros do sistema financeiro público no pagamento do auxílio emergencial. Também defendemos junto ao ministério da Saúde a inclusão dos bancários no grupo prioritário de vacinação, a partir de um estudo apresentado pela nossa Apcef/PI, a direção da Fenae e do sindicato dos bancários, onde se verificou um número grande de casos de covid 19 na categoria bancária, além de óbitos, hospitalizações e sequelados. Ainda há pouca vacina no país, mas há a necessidade de se colocar como grupo de maior risco esses trabalhadores que estão na linha de frente.