Todos os anos, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 700 mil pessoas perdem a vida para o suicídio em todo o mundo. Apenas no Brasil, são registrados aproximadamente 15 mil óbitos, o que coloca o país entre os 10 países com maior número absoluto de mortes por suicídio.

O problema é uma triste realidade que gera grandes impactos sociais, emocionais e econômicos. No Setembro Amarelo, mês dedicado às políticas de prevenção ao suicídio, a Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal (Fenae) chama a atenção para a importância do cuidado com a saúde mental dos empregados da Caixa. Uma pesquisa realizada pela entidade revela um cenário preocupante de adoecimento físico e psíquico relacionado às condições de trabalho dos bancários.

De acordo com o levantamento da Fenae, mais de um terço dos bancários entrevistados relatou ter enfrentado algum problema de saúde física (36%) ou mental (37%) nos últimos 12 meses. A pressão por resultados, o medo da perda de função e a falta de propósito no trabalho foram listados pelos participantes como os principais fatores para o adoecimento da categoria. Diante desse cenário, atualmente, os afastamentos por questões de saúde mental (58%) já superam os afastamentos por causas físicas (53%), revelando a gravidade da crise. A pesquisa mostra ainda que um em cada três empregados (32%) recorre a medicamentos por motivos relacionados ao trabalho.

Os resultados preliminares do levantamento reforçam um cenário preocupante de adoecimento físico e psíquico, decorrente principalmente da pressão por metas inatingíveis, do medo constante de perda de função e da ausência de sentido no trabalho. Outro aspecto alarmante é a duração dos afastamentos: quase 30% deles se estendem por seis meses ou mais, o que sobrecarrega ainda mais quem permanece em atividade e gera um círculo vicioso de adoecimento. A percepção majoritária da categoria (61%) é de que a Caixa não oferece apoio adequado à saúde mental de seus trabalhadores.

A neuropsicóloga Keli Rodrigues reforçou a urgência de discutir o suicídio e o adoecimento mental no trabalho, especialmente no setor bancário. Keli explica que depressão, ansiedade, transtornos de personalidade e o uso de drogas estão entre as principais causas do suicídio. Além disso, fatores psicossociais como violência doméstica, dívidas, desemprego, bullying e conflitos familiares ou sociais aumentam a incidência do problema no Brasil e no mundo. 

No ambiente bancário, a pressão por metas e o estresse ocupacional também aparecem como gatilhos relevantes. “Apesar de os meios de comunicação não divulgarem os casos de suicídio no dia a dia, falar sobre o tema é fundamental para a prevenção. Quanto mais se discute os fatores de risco, como depressão, ansiedade e estresse no trabalho, mais chance temos de ajudar uma pessoa a perceber que não está sozinha e que pode procurar ajuda. O Setembro Amarelo é um momento de grande visibilidade, mas precisamos manter esse diálogo vivo durante todo o ano”, ressalta a neuropsicóloga.

A psicóloga destaca que a recente atualização da Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1), feita pelo Ministério do Trabalho, representa um avanço importante para a proteção da saúde mental no ambiente de trabalho. Embora a norma tenha sido revisada em 2024, ela só passará a vigorar e ser fiscalizada a partir de 2026. 

Quando entrar em vigor, as empresas deverão incluir em seus Programas de Gerenciamento de Riscos (PGR) a avaliação e o controle de fatores psicossociais que afetam a saúde mental dos empregados, como assédio, sobrecarga de tarefas e falhas na organização do trabalho. “Essa atualização da NR-1 traz a obrigatoriedade de identificar, prevenir e gerenciar riscos psicossociais. Isso significa que as empresas precisarão adotar medidas concretas de proteção à saúde mental, registrando essas ações em seus programas de gerenciamento de riscos”, ressalta a psicóloga.

A professora Larissa Polejack, do Departamento de Psicologia Clínica da Universidade de Brasília (UnB), reforça que o olhar para o adoecimento psíquico precisa ser constante, e não restrito a um único mês. Ela destaca o papel dos ambientes onde as pessoas passam grande parte do tempo, como o trabalho, a escola e a universidade, na promoção do bem-estar emocional. 

Para a especialista, o cuidado com a saúde mental deve ser cotidiano e coletivo, começando pelo reconhecimento e acolhimento do sofrimento, sem julgamentos. “O sofrimento psíquico importa sempre, e falar da saúde mental e romper cm barreiras do preconceito é importante sempre. A gente precisa dizer isso todos os dias, não só no Setembro Amarelo. Cuidar de si não é fraqueza. É ensinar, inclusive, que a saúde importa, que as pessoas importam”, reforça a professora.

Ela explica que metas excessivas podem influenciar no sofrimento psíquico quando estão associadas a relações violentas, cobranças exageradas, comunicação agressiva, falta de escuta e ausência de acolhimento das necessidades e diferenças. O desrespeito à diversidade também é um fator que gera adoecimento. “É fundamental que, no ambiente de trabalho, a gente exercite outros valores além da pressão por metas. Precisamos fortalecer relações colaborativas, solidárias e de parceria. Os espaços de trabalho devem compreender que a promoção da saúde mental é essencial para a saúde do trabalhador”, finaliza a psicóloga Larissa.

Saiba mais 

O dia 10 deste mês é, oficialmente, o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, mas a iniciativa acontece durante todo o ano. Atualmente, o Setembro Amarelo é a maior campanha anti estigma do mundo. 

O Setembro Amarelo de 2025 traz o lema: se precisar, peça ajuda! A proposta é atentar para que todos atuem ativamente na conscientização da importância que a vida tem e ajudar na prevenção do suicídio, tema que ainda é visto como tabu. É importante falar sobre o assunto para que as pessoas que estejam passando por momentos difíceis e de crise busquem ajuda e entendam que a vida sempre vai ser a melhor escolha.