O presidente da Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa (Fenae), Sergio Takemoto, participou, na tarde de terça-feira (23/09), de audiência pública para debater a situação dos trabalhadores e trabalhadoras do setor bancário. Proposto pelo deputado Vicentinho (PT/SP), o evento foi realizado na Câmara dos Deputados e contou com a participação de lideranças sindicais ligadas aos bancários, pesquisadores, representantes do governo e do Ministério Público do Trabalho, além de trabalhadores de bancos públicos e privados de todo o país.

Durante a audiência, Sergio Takemoto apresentou dados da última pesquisa realizada pela entidade, que revelam a situação preocupante da saúde dos trabalhadores da Caixa Econômica Federal, provocada, segundo ele, pela cobrança de metas excessivas, pressão constante e sobrecarga de trabalho. Entre os problemas de saúde mental relatados na pesquisa, destacam-se: ansiedade (85%), estresse (64%), depressão (58%), burnout (34%), síndrome do pânico (27%) e transtorno de estresse pós-traumático (7%).

“As metas são impostas de cima para baixo, não há uma discussão com os empregados. É isso que leva ao adoecimento, porque os trabalhadores não participam. São obrigados a cumprir metas abusivas, que adoecem. É fundamental que haja uma reorganização do ambiente de trabalho, porque só dessa maneira vamos poder enfrentar a questão do assédio. Não é possível conviver tanto tempo com essa epidemia que assola a categoria bancária”, reforçou Takemoto. “O adoecimento é grave e é preciso que haja medidas para combater o assédio em todos os sentidos”, concluiu.

O deputado Vicentinho lembrou que o debate é fundamental para que a Casa Legislativa possa propor leis que garantam melhores condições para os empregados do sistema financeiro. “A audiência é essencial porque constatamos que o bancário não é número. Por trás de cada trabalhador há um filho, uma filha, um esposo ou uma esposa. Há o direito de viver em paz. Segundo os relatos apresentados, os trabalhadores não têm paz nem em casa e não conseguem conviver em uma festa de amigos, porque recebem cobranças que vão além do trabalho normal da categoria”, afirmou. “Vamos transformar essa discussão em bandeira de luta para que o Parlamento brasileiro contribua com projetos de lei e garanta a vida plena de uma categoria que tanto respeitamos: os bancários”, prometeu o parlamentar.

O secretário de Saúde da Contraf-CUT, Mauro Sales Machado, destacou a importância do debate para dar visibilidade a um problema que, segundo ele, é negado pelas diretorias dos bancos públicos e privados. “Os bancos estão sendo blindados. Há uma anistia silenciosa em relação ao poder econômico, porque está provado que existe um exército de pessoas doentes, principalmente com transtornos psicológicos, na categoria bancária”, afirmou. 

Segundo Mauro, os próprios dados da Previdência Social, do Ministério Público do Trabalho (MPT), do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e do Ministério da Saúde (MS) e diversas pesquisas comprovam a relação entre o adoecimento dos bancários e os programas de metas e resultados praticados pelos bancos. “Isso não é um caso isolado. É um projeto de gestão que impõe metas muitas vezes abusivas e um processo de pressão para que os resultados sejam atingidos. O assédio moral virou ferramenta gerencial para o cumprimento dessas metas. Trata-se de um projeto articulado, no qual os bancos contratam assessorias especializadas para ajudá-los a aplicar esse modelo, sem levar em conta os fatores humanos”, reforçou Sales.

Representantes do Ministério do Trabalho, do Ministério Público do Trabalho e do Ministério da Saúde também destacaram a necessidade de que as instituições financeiras revejam a organização do trabalho no setor, a fim de evitar o adoecimento dos empregados. Além disso, defenderam a importância de desenvolver métodos de prevenção primária, com foco na promoção da saúde coletiva dos trabalhadores.

Os especialistas também apontaram a atualização da Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1), feita pelo Ministério do Trabalho, como um importante avanço para a proteção da saúde mental no ambiente de trabalho. Embora a norma tenha sido revisada em 2024, ela só passará a vigorar e a ser fiscalizada a partir de 2026.  Quando entrar em vigor, as empresas deverão incluir em seus Programas de Gerenciamento de Riscos (PGR) a avaliação e o controle de fatores psicossociais que afetam a saúde mental dos empregados, como o assédio, a sobrecarga de tarefas e as falhas na organização do trabalho. A NR-1 estabelece, entre outros pontos, a obrigatoriedade de identificar, prevenir e gerenciar riscos psicossociais. Ou seja, os bancos precisarão adotar medidas concretas de proteção à saúde mental, registrando essas ações em seus programas de gerenciamento de riscos.

Sobre a pesquisa Fenae 

A pesquisa apresentada pela Fenae durante a audiência pública foi realizada no primeiro semestre de 2025, e reforçou a importância do Saúde Caixa para a categoria: 92% dos empregados e aposentados utilizam o plano como principal referência de atendimento médico. Apesar da boa avaliação de serviços como urgência (56%) e liberação de exames (55%), o estudo revelou forte reprovação às mensalidades, criticadas por 80% dos participantes. Diante desse cenário, a Fenae defendeu o reajuste zero, reafirmando que preservar e fortalecer o Saúde Caixa é essencial para garantir a saúde e o bem-estar dos trabalhadores e trabalhadoras da Caixa.
O levantamento destacou a relevância do Saúde Caixa, apontado como o principal plano de saúde por 92% dos entrevistados. Apesar de mais da metade avaliar o plano de forma positiva — especialmente aposentados (61%) e empregados da Matriz (70%) —, 80% reprovaram o valor das mensalidades, considerado o ponto mais crítico. 

Saúde mental 

No quesito de saúde mental, dos mais de 2.400 trabalhadores que responderam à pesquisa, 37% afirmaram já terem sido diagnosticados com problemas de saúde relacionados ao trabalho no banco. 61% dos respondentes avaliam que a Caixa não oferece apoio adequado a saúde mental dos seus funcionários.

A pesquisa também ouviu os bancários da Caixa sobre acompanhamento psicológico e psiquiátrico: 20% responderam estar em acompanhamento psiquiátrico, 27% psicológico e 23% em ambos. Em comparação com 2021 (quando foi feita a primeira pesquisa), o estudo mostra que esses dois acompanhamentos aumentaram. O acompanhamento psiquiátrico passou de 34 para 43% (aumento de 9%) e psicológico de 47 para 50% (aumento de 3%). 

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