O Dia Mundial da Saúde Mental, celebrado em 10 de outubro, chama a atenção para a importância de falar sobre os transtornos psicológicos que atingem cada vez mais pessoas, de diferentes idades e classes sociais em todo o mundo. 

De acordo com o Relatório Mundial de Saúde Mental da Organização Mundial de Saúde (OMS), publicado em junho deste ano, doenças como depressão e ansiedade aumentaram 25% no primeiro ano da pandemia, somando-se aos quase 1 bilhão de pessoas que vivem com algum transtorno mental. 

No mundo do trabalho, os transtornos mentais atingem 15% dos trabalhadores adultos, apontou o relatório da OMS. A categoria bancária é uma das mais atingidas. Ainda em 2017, o Ministério Público do Trabalho apontou que houve um aumento “sem precedentes” do adoecimento dos bancários, principalmente por transtornos mentais.

Para o presidente da Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa (Fenae), Sergio Takemoto, esta realidade é conhecida pelos empregados do banco. A mais recente pesquisa da Federação aponta para o adoecimento mental dos trabalhadores. Dos afastamentos por licença médica, 33% foram por depressão, 26% por ansiedade, 13% pela síndrome de Burnout e 11% por síndrome do pânico. A Pesquisa aponta, ainda, que o trabalho exercido no banco afeta 8 em cada 10 empregados. 

“São dados alarmantes que nos mostram o nível de sofrimento dos empregados. São metas inalcançáveis, quadro de pessoal deficitário, assédio constante – uma realidade que tem adoecido os empregados para manter o lucro bilionário do banco. É estarrecedor”, avalia Takemoto.

“O resultado da pesquisa, ao mesmo tempo que nos entristece, nos estimula a construir e propor políticas e ações na empresa para prevenir o adoecimento pelo trabalho. Infelizmente todo este trabalho esbarra na gestão do banco, que tem intensificado as práticas de medidas que adoecem os empregados”, avalia a diretora de Saúde e Previdência da Fenae, Fabiana Matheus.

De acordo com a doutora em Psicologia Social, do Trabalho e das Organizações pela Universidade de Brasília (UnB), Fernanda Duarte, a pesquisa da Fenae segue a direção do que já aponta a literatura acadêmica - um crescimento dos transtornos mentais e comportamentais como principal motivo de afastamento por licença-saúde entre os bancários. 

Adoecimento mental x assédio - Entre outros fatores, colaboram para este adoecimento a intensificação do trabalho, as cobranças abusivas de metas e práticas de assédio moral. Este fator, especificamente, está em evidência após as denúncias que explodiram na gestão do ex-presidente do banco, Pedro Guimarães. 

“Nos últimos quatro anos a gente tem percebido uma intensificação do assédio. Para usar palavras mais populares, o assédio está mais descarado. As pessoas perderam a vergonha de serem mais truculentas, autoritárias e desrespeitosas – não primam por uma gestão democrática dentro do trabalho”, observou doutora Fernanda, que também é professora da Universidade de Brasília (UnB). Ela relacionou o assédio com o adoecimento mental.

A partir deste ambiente de assédio, ela explica, as pessoas se sentem coagidas e tem a autonomia tolhida. “Então, vão se sentindo sozinhos e isolados no local de trabalho. Esta vivência se relaciona com sintomas depressivos”, observou. 

“O transtorno depressivo é muito comum entre trabalhadores bancários, assim como quadros ansiosos, onde as pessoas ficam tentando dar conta de um ritmo de trabalho que não é natural e passam a negligenciar os limites do próprio corpo. Muitas vezes isso acaba descompensando e a pessoa, de fato, acaba desenvolvendo algum transtorno”, disse. 

A doutora lembra que dados da pesquisa da Fenae mostram que as pessoas que sofrem o assédio não fazem a denúncia dentro da empresa porque não há acolhimento. “A vivência do desamparo também pode levar ao desenvolvimento dos transtornos mentais”, concluiu.