No último dia dos trabalhos da 27ª Conferência Nacional dos Bancários, realizado no domingo (24/08), as secretarias de Cultura e de Formação da Contraf-CUT fizeram uma encenação da greve histórica de 11 e 12 de setembro de 1985. Na época, o movimento, que está completando 40 anos, conseguiu mobilizar mais de 500 mil bancários e bancárias em todo o país por mais dignidade, reajuste salarial e respeito aos direitos trabalhistas, travando o sistema financeiro nacional.

Em 1985, o Brasil vivia a ressaca do movimento Diretas Já (1983 e 1984), sem conseguir eleger pelo voto direto o presidente da República, após 21 anos de ditadura militar. Nesse contexto conturbado da chamada Nova República, a categoria bancária conseguiu formar a unidade nacional e forjar importantes dirigentes, como Beto von der Osten (o Betão), Adozinda de Almeida e Sérgio Takemoto, que, após a encenação, relembraram fatos da época.

“Nós passamos a noite anterior ao dia da greve pintando faixas e dormimos em carros, em frente às agências, para evitar a ocupação noturna, que era quando gerentes levavam empregados para dormir dentro dos locais de trabalho”, relembrou Betão logo após a intervenção teatral. “A ditadura tinha destruído tudo o que tínhamos antes, sendo o mais importante a nossa autoestima. A gente vivia com medo: medo de fazer greve, medo de fazer assembleias”, continuou o dirigente.

Adozinda de Almeida, que também ajudou a fazer história naquela época, contou que, em 1979, os bancários haviam tentado uma paralisação nacional. “Naquele ano, um ministro foi à televisão e, em cadeia nacional, ameaçou toda a categoria, dizendo que iria prender todo mundo”, relatou. “Apesar de não ter dado certo, a tentativa de 1979 nos ajudou a construir o que viria a ser, mais tarde, a grande greve de 1985”, acrescentou a dirigente.

A sindicalista observou que um fator importante para o sucesso da paralisação de 1985 foi a categoria ter levado à população a consciência da situação dos bancários. “Conseguimos explicar por que iríamos parar, e a população nos apoiou”, pontuou. “Mas outra questão importante foi termos compreendido, como categoria, que o patrão era um só no Brasil inteiro, que todos nós enfrentávamos os mesmos problemas. Isso garantiu a nossa unidade”, completou.

O presidente da Fenae, Sergio Takemoto, que à época era economiário na Caixa Econômica Federal, reforçou o papel da unidade e da consciência de classe para as conquistas obtidas em 1985. “Uma das primeiras coisas que aprendemos foi que, sem greve, não teríamos conquistas. Em seguida, tivemos que decidir se iríamos para a categoria bancária ou se formaríamos um sindicato próprio, dos economiários. Mas, graças à consciência de classe e à compreensão de que somos todos trabalhadores e trabalhadoras, nos tornamos bancários”, disse, lembrando que, logo após a grande greve, os empregados e empregadas da Caixa realizaram outra paralisação, em 30 de outubro, quando conquistaram a jornada de seis horas e passaram a ser bancários. “Naquela época, éramos muito jovens. A Caixa havia feito dois concursos públicos, em 1980 e 1981, que tinham limite de idade: só podia entrar quem tivesse até 21 anos. Então, em 1982, quando tomei posse, éramos 20 mil economiários”, contou o presidente da Fenae

Ao olhar para trás, refletiu Betão, naquela época eles “não tinham dimensão” do que estavam criando. “O que nós tínhamos era muita vontade de construir a luta. E o resultado é o legado que comemoramos agora: unidade nacional e o porte da estrutura sindical alcançada hoje”, comemorou o dirigente.

Além da jornada diária de 6 horas e da unificação da data-base, em 1985 os bancários conquistaram reajuste salarial de 90,78% e antecipação de 25% diante do processo inflacionário, que corroía os ganhos dos trabalhadores em torno de 10% ao mês.

Fonte: Contraf-CUT, com edição da Fenae