Em 30 de outubro de 1985, há 40 anos, os empregados da Caixa Econômica Federal protagonizaram uma das maiores mobilizações de caráter trabalhista da história do Brasil, reivindicando a jornada de seis horas, o reconhecimento como bancário e o direito à sindicalização.
Pela importância histórica daquela greve, a Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa (Fenae) realizou, nesta quinta-feira (30), em Brasília, um evento em celebração a quatro décadas da primeira greve nacional por jornada de seis horas diárias.
O evento na sede da Apcef/DF reuniu empregados da ativa e aposentados da Caixa, além de dirigentes sindicais e associativos. Os participantes puderam reviver os momentos marcantes da greve por meio de um grande bate-papo mediado pelo jornalista Eduardo Castro, da Rede TVT, dividido em três blocos.
Confira alguns destaques do encontro:
Bloco 1 – Tema: “Conjuntura e pré-greve na Caixa”

EMANOEL SOUSA DE JESUS, DIRETOR SOCIOCULTURAL DA FENAE: “O processo da greve das seis horas começou com o movimento dos auxiliares de escritório, que buscavam ser enquadrados ou reconhecidos como escriturários básicos na carreira técnico-administrativa. Foi uma dessas lutas em que os empregados da Caixa conquistaram alguns dos seus principais direitos: a efetivação da jornada de seis horas, o direito à sindicalização e o reconhecimento da condição de bancário”.

MARIA FERNANDA COELHO, EX-PRESIDENTA DA CAIXA (2006-2011): “Este evento comemorativo é um momento de reencontro. As associações de pessoal que atuavam na época foram decisivas para o sucesso da articulação em defesa de direitos. O primeiro legado de 30 de outubro de 1985 é o da solidariedade. O período foi marcado, entre os empregados da Caixa, pela criação de vínculos duradouros. A greve das seis horas unificou um desejo por melhores condições de trabalho, por dignidade, e unificou ainda um desejo por uma Caixa pública próspera e voltada a atender as demandas sociais da população. Foi criado um sentido de coletivo. Se não tivesse essa perspectiva, o movimento não teria obtido êxito”.

LOURDES BARBOZA DA SILVA, 1º SUPLENTE DO CONSELHO FISCAL DA FENAE: “Durante o movimento das seis horas, houve perseguição nas agências aos empregados que apresentavam posicionamento político, principalmente os que eram identificados pelo uso de botton do PT. Muitos recebiam a pecha de “vermelhinhos”. Vale lembrar que, em 1985, a Caixa não tinha automação em nenhuma unidade. A comunicação era feita por ofício, com envio por malote. O uso do telex ocorria com frequência. Até então, todas as movimentações financeiras eram anotadas manualmente. Tudo é sempre assim: vai em um crescendo até chegar a um ponto”.

ERIKA KOKAY, DEPUTADA FEDERAL PELO PT/DF E EMPREGADA DA CAIXA À ÉPOCA: “O momento era importante para o país, de derrocada da ditadura militar. Não havia negociação nem direitos garantidos. Carregávamos essa condição de movimento em greve: cada militante cuidava um do outro. Foi um movimento solidário, inquieto e ousado. Anos depois, fizemos a campanha “Não Toque em meu Companheiro”. Era o ano de 1991, quando houve a demissão arbitrária e injusta de 110 empregados por reivindicarem direitos e melhores condições de trabalho”.
Bloco 2 – Tema: “História contada pelos protagonistas de 1985”

RITA DE CÁSSIA SANTOS LIMA, DIRETORA DE ASSUNTOS DE APOSENTADOS E PENSIONISTAS DA FENAE: “Fazer a greve em 1985, começando o movimento ainda durante o regime militar, gerou medo. O aprendizado se faz fazendo. Foram mantidos contatos com quem tinha alguma experiência de organização popular. A solidariedade era a marca do movimento. A greve foi construída boca a boca, no estilo formiguinha. À época, o slogan era “a nossa força é a nossa união”. Isso deu uma coragem danada aos empregados que participavam do movimento, foi libertador e criava pertencimento. A greve das seis horas é uma referência para quem é de luta neste país”.

PAULO ROBERTO MORETTI, DIRETOR DA REGIÃO NORDESTE DA FENAE: “A história bonita do movimento das empregadas e dos empregados da Caixa é coletiva e de solidariedade. A greve das seis horas foi um marco, pois possibilitou o engajamento político de muitos empregados, numa situação que perdura ainda hoje”.

MARCOS SARAIVA/MARCÃO, DIRETOR DE ADMINISTRAÇÃO E FINANÇAS DA FENAE: “O ambiente precário de trabalho na Caixa nos deu as condições para fazermos a luta. Nossa luta pela jornada de seis horas e para nos tornarmos bancários tem relação direta com a falta de condições dignas de trabalho. Fizemos uma organização unificada para deflagrarmos a greve das seis horas. Esse movimento marcou a história do banco. Foi em prol de todos os empregados e para reforçar a Caixa pública e social. A luta se constrói com unidade, dedicação e fé. Buscamos os direitos para toda a categoria”.

VICENTE PAULO DA SILVA/VICENTINHO, DEPUTADO FEDERAL PELO PT/SP: “A relação entre os bancários da Caixa e os operários paulistas sempre foi de solidariedade. Venho aqui para agradecer aos trabalhadores do banco pelo aprendizado proporcionado aos peões de fábrica. Os empregados da Caixa comemoram 40 anos dessa greve marcante, mas é preciso se preparar ainda mais. O Brasil democrático, soberano e sem desigualdade necessita da participação coletiva de toda a classe trabalhadora”.
Bloco 3 – Tema: “Legado da Greve das Seis Horas”

RACHEL DE ARAÚJO WEBER, DIRETORA DE POLÍTICAS SOCIAIS DA FENAE: “A greve das seis horas é a história da nossa vida. O clima de ser bancário já existia antes de essa greve ser deflagrada. O legado é visto todos os dias. É a defesa dos direitos do pessoal do banco. O principal atributo da Caixa é o seu papel público e social. Atendemos a população porque somos bancários da Caixa. Aprendemos a força do coletivo por meio desse movimento. Esse legado só vai continuar pela luta de todos as empregadas e de todos os empregados”.

LEONARDO DOS SANTOS QUADROS, DIRETOR DE SAÚDE E PREVIDÊNCIA DA FENAE: “É importante resgatar todos os passos dados pelos empregados da Caixa que protagonizaram a greve das seis horas. Foi difícil construir esse movimento sem os canais de comunicação que temos hoje. Na época, era tudo por malote. Toda organização feita precisa ser resgatada e ser um exemplo para os empregados. Esse processo construiu uma resistência contra o esvaziamento da Caixa pública e social. É preciso dar passos cada vez maiores em defesa dos direitos dos trabalhadores”.

FABIANA UEHARA, REPRESENTANTE ELEITA NO CA DA CAIXA: “Tenho orgulho de ser empregada da Caixa. Esse legado se deve às gerações que nos antecederam. Muita gente derramou suor e lágrima para construir a Caixa. Nosso papel é ser base para uma sociedade melhor. A Caixa é importante para rompermos a desigualdade no país. O pertencimento a esse jeito de ser um banco público é imprescindível. A nova geração usufrui pelo que a geração anterior fez pela Caixa e pelos direitos dos empregados. Temos ainda muita coisa para conquistar”.

SERGIO TAKEMOTO, PRESIDENTE DA FENAE: “Foram muitos momentos marcantes. Temos a responsabilidade de dar continuidade ao legado da greve das seis horas. Louvável ainda é a capacidade dos trabalhadores de administrar o patrimônio construído ao longo dos anos. Temos de ter orgulho do movimento dos empregados da Caixa. A nossa força é a nossa unidade. A Fenae é a grande prova da unidade do nosso movimento. Deixamos um grande legado e uma responsabilidade igualmente relevante. Lutamos por uma vida melhor para todos os trabalhadores. Que venham mais outros 40 anos!”.