2º
CONCURSO DE LITERATURA DA FENAE – LETRAFENAE 2004
Menção
honrosa na categoria Crônicas
Antonio Carlos Vieira (Conselheiro Lafaiete/MG)
Envelhecer
O circo chegou! Está em Lafaiete o Real Circo de Moscou!
Essas palavras chegaram aos meus ouvidos junto com a imagem do carro
do circo, logo que dobrei a esquina.
O carro era o mesmo de sempre, com duas grandes figuras pintadas nas
laterais; um palhaço de um lado e um grande tigre do outro e
o estridente megafone no teto ia anunciando o horário dos espetáculos.
Ouvindo isso, me dei conta de que raramente os circos se apresentam
aqui na cidade e por isso mesmo prometi a mim mesmo ir ao circo com
minha família.
Logo que cheguei em casa para o almoço, anunciei a novidade.
O efeito da expectativa que criei nos pequenos foi imediato e começaram
então a fazer conjeturas a respeito dos animais, dos artistas,
dos palhaços e também da peculiar culinária que
acompanha o circo.
Eu poderia muito bem fazer uma surpresa a eles e somente no sábado
lhes revelar o destino do nosso passeio de fim de semana. Mas, revelando
antecipadamente a minha intenção, antecipei também
a alegria e a magia que todos encontraríamos no circo. Foi como
se o espetáculo começasse ali, naquela hora. A euforia
aumentava ao passo que se aproximava o dia de nossa visita ao circo.
Isso sem dúvida foi melhor que o efeito surpresa, e de certa
forma fui ficando cada vez mais comprometido, deixando a possibilidade
de cancelar o passeio por motivos menores, cada vez mais remota.
Chegou o grande dia. O caçula nunca tinha ido ao circo, o mais
velho ia pela segunda vez. O entusiasmo que tinha tomado conta deles
ia se transformando num sentimento mais forte à medida que nos
aproximávamos da grande lona, já era possível sentir
o cheiro da serragem, o cheiro da pipoca e do amendoim.
Nesse momento, me invadiu um estranho sentimento, fui tomado subitamente
de uma suave angústia contrastando com a alegria das crianças.
Ao entrar no circo, subindo as arquibancadas e também quando
olhei mais demoradamente o picadeiro me veio a mesma sensação.
Procurei não me abalar com aquele incômodo, mas ele insistia
em residir em meu coração, e voltava.
Quando surgiu o apresentador e anunciou o mágico, me surpreendi
com sua aparência jovial, o mesmo aconteceu com o domador, o malabarista
e até com os palhaços. Cheguei a fazer um comentário
com minha esposa que não deu muita atenção, estava
com um olho no espetáculo e outro nas crianças.
O auge do espetáculo estava na apresentação dos
trapezistas. Quando eles apareceram no picadeiro em meio a um show de
luzes e som, aquela sensação me atingiu novamente. Naquele
momento, juntando a jovialidade dos artistas e o sentimento que me afligia
desde que me aproximei do circo, consegui entender o que se passava
comigo. Percebi então que os artistas do circo não eram
surpreendentemente jovens, eu sim tinha envelhecido.
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